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Cidades inteligentes e o papel da estratégia de dados

Cidades inteligentes e o papel da estratégia de dados

Ilustração de um laptop com gráficos e uma mira de alvo com flecha no centro, representando análise de dados, metas e desempenho em um contexto de cidade inteligente. Ao fundo, silhueta de prédios em tons de azul escuro.

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Autor: Daniel Kenzo
Data de publicação:  14/04/2025

Os desafios urbanos estão cada vez mais complexos, desde a mobilidade saturada até a necessidade de uma gestão mais transparente e eficiente de recursos naturais e serviços públicos. As Cidades Inteligentes surgem como resposta a esses desafios, integrando dados e inovação para criar ambientes urbanos mais sustentáveis, funcionais e orientados às necessidades dos cidadãos. 

Nesse contexto, a Estratégia de Dados torna-se um pilar fundamental. Sem uma abordagem estruturada para coleta, governança e utilização de dados, uma cidade corre o risco de acumular informações sem gerar valor real.

Segundo Kautilya, estadista e filósofo indiano dos séculos IV e III a.C., autor do tratado Arthashastra:

“Utilizar pessoas de todas as experiências e profissões para reunir inteligência proporciona ao rei olhos e ouvidos em todos os lugares. Aqueles com habilidade de prever eventos futuros prováveis são os ideais.” 

Portanto, pessoas de todas as áreas são necessárias para se compreender e construir uma sociedade. Informações de qualidade geram boas previsões, que antecipam riscos e oportunidades.

A Índia como referência para cidades inteligentes

A Índia destaca-se como um exemplo notável no uso de dados para cidades inteligentes. Por meio do programa Smart Cities Mission, o país desenvolveu um modelo estruturado de governança e utilização de dados, definindo componentes fundamentais para combater dificuldades comuns em ambientes urbanos. Veja os principais:

Mission Data Officer (MDO): Responsável por implementação da estratégia de dados em cada cidade, desempenhando papel análogo ao Chief Data Officer (CDO).

Mission Data Hub (MDH): Centro de dados que armazena e processa informações coletadas nas cidades.

Mission Data Strategy & Plan: Estrutura nacional que estabelece diretrizes para coleta, governança e uso de dados urbanos.

Smart Cities Mission Office: Entidade central que supervisiona o programa e garante alinhamento estratégico entre as cidades.

Data Champions: Profissionais que atuam como embaixadores do uso de dados dentro das administrações municipais. Eles são responsáveis por iniciativas que ajudar a promover a cultura data-driven, além de conectar universidades, empresas e governo, servindo como elo entre eles e o uso de dados abertos para inovação.

Data Coordinators: Responsáveis pela conexão entre departamentos para facilitar o compartilhamento e a utilização eficaz dos dados. Esses profissionais assumem a função de gestor operacional, estabelecendo prioridades e cronogramas para mitigar gargalos, e atuam como facilitadores técnicos, mapeando sistemas isolados e conectando diferentes fontes de dados.

City Data Alliance: Rede colaborativa entre cidades para compartilhar experiências e boas práticas no uso de dados. Responsável pela criação de hackathons, competições e conferências sobre desafios urbanos.

Hackathon para desafios urbanos: Eventos que mobilizam academia e indústria para resolver problemas complexos por meio da cocriação.

City Data Officer: Formam mentores e comitês multidisciplinares de avaliação para orientar os participantes de Hackathon, conduzindo as soluções finalistas à fase de testes em cenários reais.

City Data Policy: Política padronizada que define normas para segurança, privacidade e interoperabilidade dos dados urbanos.

Soluções eficientes e resultados

A aplicação prática dessa estrutura permitiu à Índia implantar soluções típicas de cidades inteligentes, como:

  • Monitoramento em tempo real do tráfego e mobilidade urbana.
  • Sistemas de alerta precoce para desastres naturais.
  • Eficiência energética em iluminação pública e edifícios governamentais. 

Problemas comuns, como a falta de coordenação ou a definição inadequada de responsabilidades, foram enfrentados pelos papéis de Data Champion e Data Coordinator. Além disso, a realização de eventos como hackathons ajudou a superar a dificuldade crônica de encontrar as competências necessárias para projetos de dados, incentivando a formação técnica e a inserção de profissionais de dados no mercado. O modelo indiano serve como referência para cidades de outros países, incluindo o Brasil, que pode adaptar essas funções à sua realidade urbana.

O valor dos dados abertos

Abordando agora o conceito de Open Data (Dados Abertos), pode-se afirmar que se refere à disponibilização de informações públicas de maneira padronizada e reutilizável, permitindo que governos, empresas e cidadãos extraim valor dos dados urbanos. Os benefícios do Open Data para Cidades Inteligentes incluem:

  • Transparência e Governança Aberta: Aperfeiçoa a prestação de contas e reforça a confiança da população na administração pública.
  • Inovação e Desenvolvimento Econômico: Empresas e startups podem desenvolver soluções inteligentes orientadas por dados públicos.
  • Melhoria dos Serviços Públicos: Com base em dados abertos possibilita análises mais eficientes para otimizar transporte, saúde e segurança. 

O engajamento cidadão é outro fator influente, que os próprios cidadãos podem propor melhorias baseadas em informações concretas. Útil para os hackathons e competições promovidos pela City Data Alliance. Alguns exemplos famosos: Transport for London, Portal de dados abertos da prefeitura de são Paulo, data.gov Estados Unidos, Barcelona Open Data, índia Open Data Initiative

Os desafios e barreiras para implementação do Open Data, abrangem:

  • Governança e Segurança: Garantir que os dados sejam abertos sem comprometer informações sensíveis.
  • Padrões e Interoperabilidade: Diferentes sistemas municipais precisam se comunicar para evitar silos de dados.
  • Capacitação de Equipes: A administração pública precisa ser treinada para gerenciar e interpretar os dados corretamente. 

Mesmo diante de desafios, o Open Data é um componente essencial da estratégia de dados para cidades inteligentes e deve ser pensado desde o início da implementação. Mobilizar a academia, o setor privado e a população para resolver os desafios urbanos só é possível com open data.

Construindo uma estratégia de dados para cidades inteligentes

Neste ambiente desafiador, surge a necessidade de ter um guia estratégico que inclua as peculiaridades da estratégia de dados aplicada a Cidades Inteligentes, e que a contemple e compare a empresas privadas.

São elas:

  • Priorização de  casos de uso de maior impacto social, como segurança pública, transporte e saúde.
  • Alinhamento da estratégia de dados aos planos de desenvolvimento urbano e às metas de sustentabilidade da cidade.
  • Criação de um conselho de governança de dados envolvendo diferentes secretarias municipais e parceiros externos. 

A partir de um guia estratégico, surge a operação, isto é, como estruturar os processos e recursos, tais como segue:

  • Investimento em infraestrutura de dados integrada, conectando bases de dados de diferentes departamentos. O número de fontes e volume de dados pode até ser maior do que se esperaria de uma empresa, o que faz desse item especialmente importante.
  • Implementação de plataformas de análise e visualização de dados, facilitando o acesso a informações estratégicas.
  • Garantia da interoperabilidade dos sistemas, permitindo compartilhamento seguro entre órgãos públicos.
  • Desenvolvimento de uma cultura data-driven na administração pública, treinando servidores para usar dados na tomada de decisão. 

Definido o operacional, requer-se a tática, isto é, como executar as atividades rotineiramente com gestão. A implementação se inicia com um projeto piloto antes de expandir para toda a cidade (ou múltiplas cidades), seguindo as diretrizes a seguir, fundamentais para a consolidação de uma cidade inteligente:

  • Usar métricas e indicadores chave de desempenho (KPIs) para avaliar o impacto das iniciativas de dados.
  • Criar incentivos para o uso de dados abertos, incentivando o setor privado a desenvolver soluções inovadoras para problemas urbanos. 

As tecnologias são escolhidas antecipando necessidades estratégicas de diversas entidades. Na maioria dos casos, muitos dos dados já estão disponíveis em diversas instituições governamentais. Os dados devem ser seguros e acessíveis conforme os direitos dos usuários considerando esses dados brutos quando analisados. Dados analisados devem estar disponíveis em múltiplos canais. Após a identificação das ferramentas e processos, usuários de todas as etapas precisarão de treinamento para a coleta e uso das ferramentas analíticas. Foco na construção de capacidade.

O futuro das cidades depende de dados bem utilizados

Conclusivamente, uma Cidade Inteligente é construída com um plano estratégico bem definido, que utiliza e coordena todas as pessoas envolvidas na construção e uso da cidade. O exemplo da Índia mostra que uma estrutura de papéis bem definida pode acelerar a maturidade dos dados urbanos. Já o Open Data reforça o poder da transparência e da inovação colaborativa. Com um planejamento bem estruturado, as cidades brasileiras podem se tornar referências em inteligência urbana e eficiência pública, melhorando a vida de milhões de cidadãos.

Para transformar o conhecimento em ação, é essencial contar com parceiros experientes em estratégia, tecnologia e dados. A OnSet atua justamente nesse ponto: apoiamos empresas e organizações públicas na estruturação de dados, implementação de soluções inteligentes e construção de ecossistemas digitais sustentáveis. Se a sua cidade ou empresa está pronta para dar o próximo passo rumo à inovação com responsabilidade, fale com a OnSet e descubra como podemos acelerar essa jornada juntos. Conheça nossos serviços.

Referências
INDIA. DataSmart Cities Strategy: The India Approach. Ministry of Housing and Urban Affairs – Smart Cities Mission, 2019. Disponível em: https://smartnet.niua.org/sites/default/files/resources/datasmart_cities.pdf. Acesso em: 08 abr. 2025.
INDIA. DataSmart Cities Strategy: Empowering Cities through Data. Ministry of Housing and Urban Affairs – Smart Cities Mission, 2019. Disponível em: https://smartcities.data.gov.in/sites/default/files/DataSmart_Cities_Strategy_Print.pdf. Acesso em: 08 abr. 2025.

Revisão: Prof. Dr. Helder José Celani de Souza

 

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